CTE provoca degeneração cerebral causada por traumas repetidos, afetando memória, humor e coordenação motora.
A Encefalopatia Traumática Crônica (ETC), doença que acometia o ex-boxeador Maguila, é uma condição neurodegenerativa grave causada por traumas repetitivos na cabeça. Essa enfermidade, muitas vezes chamada de "demência pugilística", afeta principalmente atletas de esportes de contato, como boxeadores, jogadores de futebol americano e até lutadores de artes marciais, que são expostos a múltiplos impactos cerebrais ao longo de suas carreiras.
O que é a Encefalopatia Traumática Crônica?
A ETC é uma degeneração progressiva do cérebro que ocorre como resultado de impactos repetidos na cabeça. Esses traumas, que não precisam necessariamente causar concussões, geram danos no tecido cerebral, provocando uma série de sintomas graves. A doença é particularmente comum em ex-atletas que sofreram diversos golpes na cabeça durante suas atividades esportivas.
Os principais sintomas da ETC incluem:
- Perda de memória: Com o passar do tempo, os pacientes apresentam dificuldade em recordar fatos e realizar atividades cognitivas simples.
- Alterações de humor: Depressão, irritabilidade, ansiedade e agressividade são frequentemente relatadas.
- Problemas motores: Tremores, falta de coordenação e dificuldades de locomoção são comuns em fases mais avançadas da doença.
- Demência: A ETC pode progredir para um estado de demência, afetando gravemente a vida do paciente.
A relação da ETC com o boxe
No caso de Maguila, a doença foi atribuída aos inúmeros golpes que ele sofreu ao longo de sua carreira como pugilista. Com mais de 85 lutas no currículo, ele se tornou um dos maiores ícones do boxe brasileiro, mas pagou um preço alto pelos impactos repetidos que seu cérebro sofreu durante as competições. A doença começou a se manifestar mais claramente no início da década de 2010, quando ele foi diagnosticado e passou a necessitar de cuidados especiais.
Maguila ficou internado desde 2017 em uma clínica especializada no interior de São Paulo, lutando contra a ETC até sua morte, ocorrida aos 66 anos. Sua condição lançou luz sobre os riscos de esportes de contato e o impacto dos traumas na saúde cerebral a longo prazo.
Imagem de encefalopatia traumática crônica - Fonte (Centro de Estudos de Encefalopatia Traumática da Universidade de Boston) |
A imagem acima apresenta uma comparação entre um cérebro normal (à esquerda) e um cérebro afetado pela Encefalopatia Traumática Crônica (CTE) em estágio avançado (à direita).
Cérebro Normal:
- O cérebro normal na imagem apresenta estrutura bem preservada, com sulcos e giros (dobras cerebrais) bem definidos. O tecido cerebral é uniforme e não há sinais visíveis de atrofia ou degeneração.
Cérebro com CTE Avançada:
- O cérebro com CTE (à direita) mostra sinais significativos de atrofia e deterioração, com o tecido cerebral visivelmente encolhido e danificado. As cavidades ventriculares (áreas cheias de líquido no centro do cérebro) estão aumentadas, um sinal de perda de massa cerebral.
- As áreas afetadas pela CTE frequentemente apresentam a acumulação anormal de uma proteína chamada tau, que se espalha pelo cérebro, causando morte de células neurais e danos aos tecidos.
Prevenção e debate sobre a ETC no esporte
A doença ganhou mais notoriedade mundialmente nos últimos anos, com diversos estudos focados em entender os impactos de esportes de contato no cérebro dos atletas. Ligada a lesões cerebrais irreversíveis, a ETC abriu um debate sobre a segurança desses esportes e a necessidade de protocolos mais rígidos para proteger os atletas.
Atualmente, não há cura para a ETC, e a única forma de diagnóstico definitivo é através da análise do tecido cerebral pós-morte. No entanto, o reconhecimento precoce dos sinais e a limitação da exposição a traumas repetidos são cruciais para retardar a progressão da doença.
O caso de Maguila serve como um alerta para a necessidade de cuidar da saúde cerebral em esportes de alto impacto, incentivando mais pesquisas e melhorias nas práticas de segurança.
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