O Cenipa divulgou um relatório preliminar sobre os motivos da queda do avião , que deixou 62 vítimas.
© Secretária de Segurança de São Paulo/Divulgação |
Em um relatório preliminar divulgado nesta sexta-feira (6), o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), vinculado à Força Aérea Brasileira (FAB), revelou que os pilotos do avião da Voepass, que caiu em Vinhedo (SP) no mês passado, relataram falhas no sistema de degelo logo no início do voo. O acidente resultou na morte de 62 pessoas.
De acordo com o relatório, o copiloto mencionou a formação de "bastante gelo" na aeronave dois minutos antes do acidente. Essa revelação levanta uma das principais linhas de investigação do Cenipa: como o gelo afetou o desempenho da aeronave e as ações da tripulação. "O que temos até o momento é que houve uma fala extraída do cockpit em que um dos tripulantes indicava uma falha no sistema de De-Icing [degelo]. Todavia, isso ainda não foi confirmado pelo sistema de dados (FDR)", afirmou o Brigadeiro do Ar Marcelo Moreno, chefe da Seção de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos.
Formação de gelo e falhas no sistema de degelo
A formação de gelo em aviões é um risco bem conhecido, podendo comprometer a sustentação e o controle da aeronave. Durante o voo, o sistema de degelo foi acionado várias vezes pelos pilotos, mas em alguns momentos o avião voou por cerca de seis minutos com aviso de gelo sem que o sistema de degelo fosse ativado. Ainda não se sabe se o sistema foi desligado manualmente pela tripulação ou se falhas técnicas impediram seu funcionamento adequado. O Cenipa segue investigando todas as possibilidades.
Especialistas civis indicaram que a formação de gelo severo pode ter sido um fator para a queda da aeronave. O Cenipa confirmou que o avião enfrentou uma rota com condições de gelo severo e que, de acordo com os registros de manutenção, a aeronave estava apta a voar nessas condições.
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Resposta da Voepass e continuidade das investigações
A Voepass Linhas Aéreas emitiu uma nota após a divulgação do relatório preliminar, afirmando que a aeronave estava com todos os certificados de aeronavegabilidade em dia e que tanto o comandante quanto o copiloto possuíam as certificações e treinamentos atualizados para operar em condições de gelo. A empresa reforçou que o processo de investigação é longo e complexo e que apenas o relatório final poderá apontar as causas definitivas do acidente.
"O relatório preliminar do Cenipa confirma que a aeronave estava em conformidade com todos os requisitos de voo e que os pilotos estavam devidamente treinados. Continuaremos colaborando com as autoridades e oferecendo apoio às famílias das vítimas", afirmou a Voepass em comunicado oficial.
Sistema de degelo: Ligado e desligado várias vezes
De acordo com os dados preliminares, o sistema de degelo foi acionado e desativado várias vezes durante o voo. O Cenipa ainda não pode confirmar se o sistema foi desligado pelos próprios pilotos ou se houve alguma falha técnica que o desativou. "O sistema antigelo era controlado por um botão. Se a tripulação o desligou ou se outra condição causou o desligamento, ainda estamos investigando", explicou o tenente-coronel Paulo Mendes Fróes.
Além disso, o relatório aponta que o avião estava com um dos sistemas pneumáticos, conhecido como "Pack de número 1", inoperante desde dias antes do acidente. Embora isso não fosse um impedimento para o voo, a aeronave precisou voar em uma altitude mais baixa e com um cálculo de combustível ajustado para essa condição.
Detalhamento do relatório preliminar e investigações paralelas
O Cenipa destacou que, além dos fatores técnicos, a investigação também está focada em aspectos humanos e operacionais. A tripulação tinha treinamento específico para voos em condições de gelo, realizados em simuladores. No entanto, o relatório aponta que, apesar desse preparo, a formação de gelo severo na rota do voo pode ter surpreendido os pilotos. "Era previsto gelo severo na rota e havia alertas disponíveis por meio de informações meteorológicas. Os pilotos estavam cientes das condições climáticas adversas, e isso será investigado detalhadamente", afirmou o brigadeiro Marcelo Moreno.
Ainda que o relatório preliminar não aponte culpados, ele apresenta dados que serão essenciais para a compreensão dos eventos que levaram ao acidente. O Cenipa reiterou que seu objetivo principal é identificar falhas e recomendar melhorias de segurança para prevenir futuros desastres.
Impacto sobre os familiares e apoio da Voepass
Cerca de 70 familiares das vítimas, juntamente com advogados, viajaram até Brasília para participar da apresentação do relatório preliminar na Base Aérea. Segundo relatos, muitos familiares expressaram frustração com a demora das investigações e estão ansiosos por respostas mais conclusivas.
A Voepass, por sua vez, reforçou que está oferecendo apoio integral às famílias e que mantém sua colaboração ativa com as autoridades. "A empresa está focada em garantir que as famílias recebam todo o suporte necessário durante este momento difícil. Estamos trabalhando em conjunto com as autoridades e com os familiares para ajudar da melhor forma possível", destacou a nota oficial da companhia.
Investigações paralelas da Polícia Federal
Paralelamente à investigação conduzida pelo Cenipa, a Polícia Federal (PF) está realizando sua própria análise para apurar se houve negligência ou falhas que possam imputar responsabilidade criminal. A PF busca verificar se houve irregularidades tanto na manutenção da aeronave quanto na conduta dos envolvidos. A investigação da PF será fundamental para determinar se atos intencionais ou omissões contribuíram para o acidente, o que poderia resultar em acusações criminais.
O Laudo de Sinistro Aeronáutico, a ser produzido pela PF, trará uma análise técnica e científica do acidente. A perícia da PF está focada nos destroços do avião, nas caixas-pretas e em outros componentes importantes que poderão esclarecer as causas da queda.
As próximas etapas da investigação
O Cenipa ainda não tem uma previsão para a conclusão do relatório final, mas o brigadeiro Marcelo Moreno garantiu que todos os aspectos relevantes serão examinados. "Este é um processo complexo, que envolve não apenas os dados técnicos da aeronave, mas também a análise das condições meteorológicas, o comportamento da tripulação e a qualidade das manutenções realizadas. Nada será deixado de lado."
A equipe do Cenipa também informou que os destroços da aeronave passarão por uma análise mais aprofundada, com o objetivo de identificar qualquer falha estrutural que possa ter contribuído para o acidente.
Repercussões e segurança no setor aéreo
Este acidente com a Voepass levanta novamente a questão da segurança no setor aéreo, especialmente em voos que enfrentam condições climáticas extremas. Embora o Brasil tenha um histórico positivo de segurança aeronáutica, eventos como este lembram a importância de seguir protocolos rígidos e manter uma fiscalização contínua sobre a manutenção das aeronaves.
Especialistas apontam que a queda pode resultar em novas diretrizes de segurança para operações em áreas sujeitas a gelo severo, tanto no Brasil quanto em outros países que operam em condições semelhantes.
Conclusão: Caminho até a verdade
O acidente em Vinhedo, que tirou a vida de 62 pessoas, ainda levanta muitas perguntas. O relatório preliminar do Cenipa oferece uma visão inicial sobre o que pode ter acontecido naquele voo fatídico, mas o caminho para a verdade é longo. A combinação de fatores técnicos, meteorológicos e humanos torna essa investigação especialmente delicada, e as famílias das vítimas, bem como o setor aéreo, aguardam por respostas conclusivas.
O Cenipa, a Polícia Federal e outros órgãos envolvidos prometem continuar a busca por respostas, não apenas para compreender o que aconteceu, mas também para garantir que tragédias como esta possam ser evitadas no futuro.
Nota Voepass
Nota sobre relatório provisório
São Paulo, 6 de setembro de 2024 - A VOEPASS Linhas Aéreas reforça que está prestando todo o atendimento aos familiares das vítimas neste momento de profunda dor, para garantir que suas necessidades sejam atendidas.
O relatório preliminar divulgado pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) confirma que a aeronave do voo 2283 estava com o Certificado de Verificação de Aeronavegabilidade (CVA) válido e com todos os sistemas requeridos em funcionamento.
Reforça também, como o relatório aponta, que ambos os pilotos estavam aptos para realizar o voo, com todas as certificações de pilotagem válidas e treinamentos atualizados.
Cabe lembrar que a investigação de um acidente aéreo é um processo complexo, que envolve múltiplos fatores e requer tempo para ser conduzida de forma adequada. Somente o relatório final do CENIPA poderá apontar, de forma conclusiva, as causas do ocorrido.
A VOEPASS atua em um setor altamente regulado e reforça que segue rigorosamente todos os protocolos que atestam a conformidade de toda sua frota, seguindo os padrões mais elevados da aviação internacional.
A empresa segue à disposição das autoridades para colaborar com as investigações e segue apoiando as famílias em suas necessidades.
A VOEPASS Linhas Aéreas destaca ainda que a segurança de seus passageiros e tripulação sempre foi e continuará sendo sua prioridade máxima.
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