Como Araraquara se tornou o berço do crime organizado no Brasil
Introdução ao Primeiro Comando da Capital
O Primeiro Comando da Capital (PCC) é hoje uma das facções criminosas mais poderosas e temidas do Brasil. Sua atuação se estende por boa parte do território nacional, controlando presídios, o tráfico de drogas e influenciando diretamente a criminalidade nas ruas. Mas o que muitos desconhecem é que a consolidação e expansão do PCC começaram em Araraquara, cidade do interior de São Paulo.
Fundado oficialmente em 1993, na Casa de Custódia de Taubaté, conhecida como "Piranhão", o PCC teve sua estrutura fortemente moldada dentro das penitenciárias do estado de São Paulo. Entretanto, foi na Penitenciária de Araraquara que as primeiras atividades de recrutamento fora de Taubaté começaram, espalhando a influência da facção. Esse início foi impulsionado pela chegada de um de seus co-fundadores, Idemir Carlos Ambrósio, o “Sombra”.
Idemir Carlos Ambrósio, o Sombra, o primeiro batizado no PCC Imagem: Reprodução |
A Chegada de Idemir "Sombra" Ambrósio a Araraquara
Idemir Ambrósio, nascido em São Carlos, rapidamente subiu nas fileiras do crime organizado. Ele começou sua carreira criminosa com pequenos furtos e assaltos, mas seu envolvimento com o crime só aumentou até se tornar um dos principais líderes do PCC. Sua trajetória em direção ao topo começou a ganhar forma com sua transferência para a Penitenciária de Araraquara, no dia 6 de janeiro de 1994.
Penitenciária de Araraquara - Foto (arquivo pessoal) |
Na prisão, Sombra se destacou não apenas por sua liderança, mas também por sua capacidade de recrutar e organizar. Enquanto outros membros fundadores do PCC ainda estavam presos em Taubaté, Sombra ajudou a expandir a organização para além dos muros do Piranhão. Araraquara tornou-se uma espécie de laboratório onde as ideias e princípios da facção começaram a ser disseminados entre outros presos, com novos "batismos" sendo realizados.
Matrícula de novo faccionado do PCC, com informações sobre a "quebrada" de origem e interrogatório básico (Foto/Divulgação) |
A Penitenciária de Araraquara, com seus quatro pavilhões e rígido esquema de segurança, não foi capaz de impedir que Sombra começasse a recrutar novos membros para o PCC. Ele, que era considerado um líder carismático e inteligente, usou sua influência para espalhar a ideologia da facção, que, naquela época, ainda era vista como um movimento em defesa dos direitos dos presos. No entanto, a facção logo evoluiu para uma organização criminosa muito mais ampla e perigosa.
Penitenciária de Araraquara vista de satélite - Foto reprodução (Google) |
O Papel de Araraquara na Expansão do PCC
A chegada de Sombra à Penitenciária de Araraquara foi um ponto de inflexão para a expansão do PCC. A cidade, até então associada à tranquilidade do interior paulista, tornou-se um dos primeiros cenários de batismos e recrutamento externo da facção. Foi ali que o PCC começou a consolidar sua influência, não apenas dentro das prisões, mas também nas ruas.
De acordo com o jornalista e especialista em crime organizado, Josmar Jozino, autor do livro “Cobras e Lagartos,” Sombra desempenhou um papel crucial ao plantar as sementes do PCC em Araraquara. A cidade se tornou um ponto estratégico para a facção, e o presídio local foi um dos primeiros a sentir o impacto da nova organização criminosa que estava nascendo. Durante sua permanência em Araraquara, Sombra recrutou vários "irmãos" para o partido e ajudou a disseminar a ideologia do grupo em outras penitenciárias do estado.
A partir de Araraquara, a influência do PCC começou a crescer de maneira exponencial. A facção passou a exercer controle não apenas sobre o tráfico de drogas dentro das prisões, mas também sobre uma série de atividades criminosas fora delas. Sombra, embora tivesse começado como um ladrão de bancos, logo se tornou uma figura central dentro da organização, ajudando a transformar o PCC no império criminoso que conhecemos hoje.
O "Trio Parada Dura": Sombra e Seus Comparsas
Antes de se tornar um dos principais líderes do PCC, Idemir "Sombra" Ambrósio já tinha uma longa ficha criminal. Nascido e criado em São Carlos, ele ingressou no mundo do crime ainda jovem. Foi em São Carlos que ele conheceu seus dois comparsas, conhecidos como "Meningite" e "Urso". Juntos, formaram o grupo conhecido como "Trio Parada Dura", responsável por uma série de assaltos na cidade e na região.
Os crimes cometidos pelo Trio Parada Dura não eram sofisticados, mas eram brutais. Eles invadiam casas, comércios e até mesmo bancos, sempre deixando um rastro de destruição por onde passavam. Em uma das ações mais notórias do grupo, eles invadiram a casa de um comerciante em São Carlos, roubaram joias, aparelhos eletrônicos e um carro. A vítima ficou tão abalada que precisou ser hospitalizada.
Sombra e seus comparsas foram responsáveis por inúmeros assaltos a bancos em cidades como Araras, Leme, Ribeirão Preto e Sorocaba. Mesmo sendo caçado pela polícia, Sombra continuou sua trajetória criminosa. Ele foi preso diversas vezes, mas sempre conseguia fugir. Em uma de suas fugas mais famosas, ele escapou de uma cadeia pública em São Carlos e se escondeu no Paraná, onde continuou a realizar assaltos.
Aos 19 anos, Sombra já havia sido processado por lesão corporal e roubo. Ao longo dos anos, ele acumulou mais de 61 processos criminais, sendo condenado em mais da metade deles. Sua habilidade em escapar da prisão e seu envolvimento em crimes cada vez mais graves fizeram com que ele se tornasse uma figura conhecida e temida no mundo do crime.
A Consolidação de Sombra no PCC
Quando Sombra foi transferido para a Penitenciária de Taubaté, em 1993, ele rapidamente se envolveu com a liderança do recém-fundado PCC. Embora não tenha participado diretamente da fundação da facção, ele logo foi incorporado ao grupo como um de seus principais líderes. De acordo com o jornalista Percival de Souza, no livro “Sindicato do Crime,” Sombra foi fundamental para a expansão do PCC fora de Taubaté.
Sombra desempenhou um papel crucial na organização do PCC dentro dos presídios paulistas. Ele era responsável por realizar os "batismos", cerimônias em que novos membros eram aceitos na facção. Esses batismos começaram a ocorrer em Araraquara e, a partir dali, se espalharam para outras cidades e presídios do estado. O presídio de Araraquara tornou-se um dos primeiros redutos do PCC, e Sombra foi o responsável por plantar as sementes da facção na cidade.
Sua habilidade em liderar e recrutar novos membros fez com que Sombra ganhasse cada vez mais prestígio dentro do PCC. Em 1994, ele foi transferido de volta para Taubaté, mas sua influência em Araraquara já havia se consolidado. A facção continuou a crescer, recrutando novos membros e expandindo suas atividades criminosas em todo o estado de São Paulo.
O Legado de Sombra e a Expansão do PCC
O legado de Idemir "Sombra" Ambrósio no PCC é inegável. Ele foi um dos principais responsáveis por expandir a facção para além de Taubaté, ajudando a transformar o PCC em uma organização criminosa de alcance nacional. Embora tenha sido morto dentro de um presídio em 2001, sua influência continua a ser sentida até hoje.
A Penitenciária de Araraquara, onde Sombra desempenhou um papel crucial na expansão do PCC, tornou-se um símbolo do crescimento da facção. Ao longo dos anos, outros membros importantes do grupo também passaram por essa prisão, consolidando ainda mais a influência do PCC na cidade e na região.
Conclusão: O Impacto de Araraquara no Crime Organizado
A história do PCC em Araraquara é um lembrete de como o crime organizado pode crescer e se expandir rapidamente, mesmo em lugares aparentemente tranquilos. O papel de Sombra na expansão do PCC mostra que o crime pode se infiltrar em todos os níveis da sociedade, desde as prisões até as ruas.
Hoje, o PCC é uma das facções criminosas mais poderosas do Brasil, controlando presídios, o tráfico de drogas e uma série de outras atividades criminosas. E tudo começou em lugares como Araraquara, onde líderes como Sombra plantaram as primeiras sementes do que viria a se tornar um império do crime.
A história de Sombra e do PCC serve como um alerta para a importância de combater o crime organizado em suas raízes. A sociedade e as autoridades devem estar sempre vigilantes, para garantir que organizações como o PCC não continuem a crescer e ameaçar a segurança e a paz em nossas comunidades.
COMENTÁRIOS