João Paulo Brancalion, de 9 anos, cujo corpo foi encontrado dentro do freezer de um colégio católico tradicional em Piracicaba (SP).
A morte do menino de 9 anos João Paulo Brancalion, cujo corpo foi encontrado no freezer de um colégio católico tradicional em Piracicaba (SP), completa 34 anos neste sábado (16). Isso ocorre no ano em que o júri do caso, que é considerado um dos mais longos da cidade, completa dez anos de existência.
Há vinte anos que o estado não fez nada sobre a morte de João Paulo. Além de causar sofrimento à família, o caso permanece no imaginário de uma comunidade que ainda não sabe o que causou a morte de uma criança.
João Paulo Brancalion, de 9 anos, acabou de concluir a terceira série do ensino médio. Imagem: Reprodução/EPTV |
O crime ocorreu durante um período marcado por uma sensação de renovação de esperança, não apenas pela aproximação do Natal, mas também pela véspera da primeira eleição direta para presidente depois de 29 anos.
"No dia 17, era o segundo turno da eleição, a primeira eleição depois do fim da ditadura militar, e eu votava, porque também foi a primeira turma que pôde votar abaixo dos 18 anos, dos 16 aos 18, o voto facultativo. Então, houve uma série de marcas pessoais e coletivas nesse período para mim e para a minha geração", relata escritor Ademir Barbosa Júnior, também conhecido como Dermes, ao contar que João Paulo era aluno do mesmo instituto.
“Foi logo após o almoço, à tarde, já estava um alvoroço de gente em frente ao colégio, e vendo a notícia que tinha sido encontrada uma criança morta dentro de um freezer. Foi uma coisa muito chocante pra todo mundo, porque ninguém imaginava nem como aquilo tinha acontecido. E aí, depois, a gente foi saber que era nosso amigo, o João Paulo”, recorda um dos melhores amigos da vítima, Assis Fernando de Mello.
"Aquilo era terrível para a cidade, para os pais e todos aqueles que se dizem cristãos. Enfim, para a cidadania tinha que dar uma satisfação", relembra José Silvestre da Silva, que trabalhou como advogado da família da vítima durante todos os processos criminais e manteve vínculos profissionais e pessoais com a tragédia.
O freezer onde o corpo de João Paulo foi encontrado — Imagem: Reprodução/Poder Judiciário |
“Pra mim foi uma história muito chocante, muito triste [...] O tempo passou e eu percebo que aqueles que se lembram da situação, dos fatos, continuam com a tristeza no coração, primeiro pela violência e pelo crime, e segundo pela impunidade”, comenta Dermes.
"Vinha muita notícia falsa, muita informação falsa [...] Havia boato de que ele se trancou ali por um acidente. Isso não seria possível", lembrando o delegado José Maria Franchim, responsável pela conclusão do inquérito.
"Tivemos um episódio ligado a esse. Foi a morte de duas crianças também encontradas no freezer em Charqueada (SP), com as mesmas características de morte por sufocamento", lembra Sérgio Augusto Dias Bastos, ex-delegado seccional de Piracicaba, sobre dois rapazes que foram encontrados mortos em uma caixa térmica em um salão paroquial.
O acusado de matar o menino é absolvido
João Paulo foi encontrado com os sapatos e roupas arrumados ao lado do corpo — Foto: Reprodução/Poder Judiciário |
“Todos os dias que eu passo pela lombada da Rua Alfredo Guedes [em frente à escola] me vem à lembrança o caso João Paulo Brancalion”, conta Silvestre.
"Tá vivo na memória, tá vivo na memória de todos. Foi algo assim que as pessoas se sentiam tristes e também com alguma sede de algo que se solucionasse", diz Assis.
"É um caso que na primeira ação da polícia, ela foi muito falha. Poderia muita coisa ter sido resolvida com mais brevidade", afirma Bastos.
O médico Badan Palhares fazendo perícia no freezer onde foi encontrada a vítima — Foto: Reprodução/Poder Judiciário |
COMENTÁRIOS