No Brasil, 31 milhões sofrem com a doença neurológica incapacitante
lazer, do convívio? Quem sofre de enxaqueca, sabe bem como é essa rotina. Dados recentes divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) apontaram a enxaqueca como uma das principais causas de incapacidade em todo o mundo.
“A gente pode resumir a enxaqueca dizendo que é um distúrbio do processamento neurossensorial. Esse distúrbio é cíclico, ou seja, ele acontece em crises e pode se tornar crônico com uma frequência muito maior. Mas o que está em jogo na fisiopatologia da enxaqueca é uma disfunção na forma como funcionam alguns centros que regulam a percepção. Por exemplo, da dor. Então, esses centros quais são? A gente tem órgãos como o hipotálamo que regula várias funções vitais e que faz parte da regulação também da dor e que vai estar envolvido na fisiopatologia da enxaqueca”, explica o Dr. Marcio Nattan, neurologista do Grupo de Cefaleias do HCFMUSP.´
“Cerca de 15% da população do mundo tem enxaqueca, coisa de um bilhão de pessoas. No Brasil, 31 milhões de pessoas sofrem com enxaqueca. Esse adensamento no mundo é bastante parecido com o Brasil. Exceto, quando a gente fala de enxaqueca crônica, que é a enxaqueca que a pessoa tem 15 dias ou mais de dor por mês. Ela passa mais tempo com dor do que sem. No Brasil a taxa é mais comum do que o que a gente tem de números no resto do mundo, em torno de 5% da população”, completa Dr. Marcio.
A enxaqueca pode ser classificada de algumas maneiras. Basicamente, é possível separar a enxaqueca com aura e sem aura. A enxaqueca com aura vai acometer mais ou menos 20% das pessoas. Elas têm dificuldade para enxergar, o que pode apagar um campo de visão, pode ter pontos brilhantes, dificuldade para focar. Outros sintomas são formigamentos nos braços que sobem até a face ou dificuldade da fala. É preciso uma equipe multidisciplinar no tratamento da enxaqueca, inclusive utilizando a psiquiatria.
“Apesar de ser um diagnóstico neurológico, os aspectos psiquiátricos que a enxaqueca desencadeia, seja a dor crônica, incapacidade laboral, a incapacidade social, causam ansiedade, podem causar depressão ou outras questões. Assim como quadros psiquiátricos como depressão e estresse, que podem agravar a enxaqueca. Então, a gente sempre olha com muito cuidado, e com muita cautela quando alguém chega com esse diagnóstico, ou com uma queixa de dor de cabeça crônica, ou cefaleia, que a gente ainda não tem o diagnóstico fechado. Vamos fazer um diagnóstico aprofundado justamente para poder fazer uma abordagem correta e focar no melhor tratamento”, conta a Dra. Inah Proença, médica psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.
Um alerta importante nesse episódio é que, apesar da angústia que a enxaqueca traz para o paciente, é fundamental buscar tratamento médico personalizado e evitar a automedicação.
“A pessoa que sofre com dor de cabeça tende a achar que isso é uma coisa normal e acaba recorrendo a tomar um analgésico. Muitas vezes ela desconhece que o risco de desenvolver o que a gente chama de cefaleia, por uso excessivo do analgésico. Com o tempo, a pessoa começa a perceber que ela não responde mais tão bem ao analgésico, cada vez precisa de mais e ela vai continuar usando aquilo. O objetivo do tratamento não é só parar de usar analgésico, mais do que isso, é que a pessoa não precise recorrer tão frequentemente ao analgésico”, explica o Dr. Marcio.
“A automedicação descontrolada é sempre um sinal de alerta para enxaqueca, para depressão, para qualquer outra questão. Esses medicamentos tomados de forma errada ou administrados em posologia errada podem trazer grandes consequências para o organismo. E o uso crônico dessas medicações pode muitas vezes agravar o quadro da enxaqueca”, destaca a Dra. Inah.
Sobre a automedicação, a medida utilizada pela medicina é que qualquer pessoa que use analgésicos 10 dias ou mais do mês, está fazendo um uso excessivo.
“Também tem a quantidade de comprimidos por dia. Nós temos pacientes que usam de 6 a 10 comprimidos de analgésico ao dia. Isso, além de piorar a frequência das dores de cabeça, também traz um risco para o estômago, para o fígado, porque esses medicamentos são metabolizados e acabam influenciando no sistema do trato gastrointestinal. A mensagem principal é que o tratamento preventivo vai fazer a frequência das dores diminuir”, diz o Dr. Alexandre Ottoni Kaup, pesquisador e neurologista do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein.
“Algumas atividades ajudam muito no tratamento da enxaqueca, como a atividade física. A gente tem dados importantes a respeito do cuidar do sono, que é fundamental. A gente vê uma associação muito próxima de distúrbios do sono, como a insônia, como apneia do sono, na piora da enxaqueca. Distúrbios como transtorno de ansiedade e depressão também estão relacionados à piora da enxaqueca. Então, o cuidado da saúde mental, boa alimentação, é uma promoção de saúde e pode ajudar”, diz o Dr. Marcio Nattan.
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